Café sem Culpa
Novas pesquisas garantem: o café sai do papel de vilão para encarar um
mocinho aliado da sua saúde. Mas antes de brindar a notícia, encontre a medida
que pode beneficiar o seu organismo.
POR GUSTAVO XAVIER
Apreciado, amplamente consumido, saboreado de várias maneiras, o café faz parte da
alimentação brasileira. Mesmo quem não toma costuma apreciar seu cheirinho
agradável. E quem toma normalmente o faz diariamente. Puro, com leite, de manhã, de
tarde, de noite, com sorvete, quente, morno, frio. O café está no topo dos alimentos
mais consumidos. No mundo todo, só as plantas para fazer refrigerantes de cola
e o chá ficam no mesmo patamar do café em termos de vegetais campeões de
consumo. Assim, nada mais útil do que entender um pouco aquelas xícaras
esfumaçadas e saber quais são suas propriedades e efeitos para a saúde. “Café
não é remédio, mas a comunidade médico-científica já considera a planta como
funcional — que previne doenças — ou mesmo nutracêutica — nutricional e
farmacêutica. Isso porque o café não possui apenas cafeína, mas também outros
componentes”, atesta a nutricionista Priscila Maximino, da Nutrociência, em São
Paulo.
Além da cafeína
Potássio, zinco, ferro, magnésio e diversos outros minerais estão
presentes no grão, embora em pequenas quantidades. Aminoácidos, proteínas,
lipídios, além de açúcares e polissacarídeos também o compõem. Mas nem todas
essas substâncias permanecem nas mesmas quantidades quando o café passa pelo
processo de torrefação. Alguns deles chegam até mesmo a ser destruídos por
completo se os grãos são torrados excessivamente.
O DIAMANTE DOS
CAFÉS
Pode parecer piada, mas não é. O café tido como o mais saboroso e raro
do mundo é colhido das fezes de um animal. Sim, o Kopi Luwak ou Café Civeta é
proveniente da Indonésia. O animal, chamado civeta e com aparência que lembra
uma doninha, faz o que as melhores tecnologias de produção de café fazem, com
um diferencial: separa o grão da polpa dentro do corpo adicionando
substâncias excepcionais. O civeta colhe minuciosamente os frutos mais doces
e coloridos do café. Depois de engoli-los, os frutos permanecem no sistema
digestório do animal, onde bactérias específicas fermentam a polpa, unidas à
ação de enzimas digestivas. Ao defecar, os grãos saem intactos, porém
acrescidos de características inigualáveis (também, pudera...). É então que
entra a mão do homem, literalmente recolhendo das fezes do civeta os grãos de
café. Segundo relatos, o café preparado com o Kopi Luwak tem aroma
intensamente agradável e sabor parecido com o de chocolate. São produzidos
apenas 230 quilos por ano. Ah! além de ser o mais saboroso e raro do mundo,
obviamente também é o mais caro. O quilo sai por cerca de R$ 1.500.
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Geralmente, os grãos do café tipo Arábica, que é o mais usado para fazer
o pó, passam por uma torrefação a 220ºC entre 12 e 15 minutos. No Brasil, os
grãos passam, em média, por uma torrefação a 180ºC, durante cerca de 20
minutos. É considerado um tempo excessivo. Por isso, aqui o café costuma
apresentar menor grau de qualidade, tanto nas propriedades nutritivas quanto no
aroma, cor e sabor.
Por um lado, a torrefação é a responsável pelo fato de o café ser pouco
calórico. Afinal, parte dos lipídios, aminoácidos e açúcares são eliminados no
processo. Por outro, aumenta a concentração de cafeína, que não se perde.
Combate à depressão
Embora seja o componente mais conhecido do café, a cafeína constitui apenas uma
parte de sua composição total. E é menos do que muita gente pensa, pois um grão
normal tem de 0,8% a 2,5% de cafeína. Nem por isso deixa de ser parte
importante desse alimento, com sua devida participação sobre os efeitos no
metabolismo e nas reações orgânicas.
Uma das ações da cafeína se dá sobre os quadros de depressão. E, nesse
sentido, o café parece ser um aliado importante no combate à doença. “A cafeína
é um estimulante do sistema nervoso central e, em pequenas doses, pode trazer
uma sensação de bem-estar, disposição e ânimo”.
Tratando-se ainda do sistema nervoso, também há indícios de que a
cafeína possa reduzir a incidência da doença de Alzheimer. Porém, estudos nessa
direção ainda são experimentais, feitos com animais, e não é possível especular
sobre os mesmos efeitos em seres humanos.